sábado, 10 de dezembro de 2011

O PARADIGMA DO PASTICHE

No último dia letivo na faculdade eu fazia a apresentação de um trabalho o qual valia a minha alforria às férias quando fui atropelado durante a apresentação com o oportuno comentário da professora: -“Mas isto é pastiche!”. Eu não sabia se ria ou chorava, pois eu não tinha a menor ideia do que ela falava. Ainda bem que a curiosidade também nos move e um colega perguntou: -“O que é isso?”
Resumindo o que entendi, a professora quis dizer que era uma ofensa visual ao estilo da arquitetura local ou até excesso de estilos para um mesmo local. Eu percebi que os meus colegas até gostaram do projetinho apresentado mas a professora não ficou nada satisfeita. E eu muito menos, pois não sabia, como ainda não sei, se ela estava sendo conservadora, crítica ou limitada ao paradigma do Pastiche.
Como eu tenho o grave defeito de não absorver muito bem as críticas, repliquei com veemência  explicando que as soluções adotadas pelos arquitetos são parecidas, variando muito pouco, para este tipo de desafio o qual nos foi dado. Mesmo assim, se valendo de sua enorme experiência no ramo, ouvi a mestra dizer que estes arquitetos imprimem nestas soluções o que há de mais moderno com soluções arrojadas mostrando uma tendência natural. Só que no meu cérebro as palavras que ecoaram são outras: “A sua criatividade está limitada a paradigmas e tendências modernas. Não faça diferente.”
Sei que posso estar exagerando ou me transformando num rebelde, remando contra a maré ou o que valha, mas mesmo assim prefiro continuar pensando com o que há entre as minhas orelhas.
Não muito feliz, continuei a minha apresentação com a participação de mais três colegas que faziam parte do grupo de trabalho. Neste grupo coube a mim projetar a solução enquanto eles fizeram a pesquisa e montaram o resto. Continuei infeliz mesmo depois da apresentação, pois eu não quis torturar a professora com a avalanche de perguntas e argumentos que me vinham à cabeça.
Outra coisa que me causou indignação foi saber neste mesmo dia, assim como toda a turma, a nota do primeiro bimestre. Ou seja, no último dia de aula com uma apresentação que vale ponto, soubemos se ficamos para recuperação ou não, se faremos prova final ou não, se estamos ferrados ou não. Continuo indignado, pois ainda não sei, e mesmo que passe direto continuarei indignado, pois considero falta de respeito com os alunos.
Por fim procurei o termo Pastiche nos dicionários e na internet. Achei coisas interessantes a respeito e deixo aqui “coladas” em resumo para compartilhar com vocês:
Etimologicamente derivado da palavra italiana pasticcio (massa ou amálgama de elementos compostos), pastiche era aplicado pejorativamente, no campo da pintura, a quadros forjados com tal perícia imitativa que procuravam ser confundidos com os originais. O conceito viajou para França e pasticcio converteu-se no galicismo pastiche, no século XVIII.
Deliberadamente cultivado por inúmeros autores, o pastiche afirma-se como a escrita “à maneira de”. Faz uso de processos como a adaptação (modificação de material artístico de género para género e de uma forma para outra distinta), a apropriação (o empréstimo deliberado), a bricolagem (a criação a partir de fontes e modelos heterogéneos) e a montagem.
O pastiche reveste-se de um caráter ambivalente, ao aproximar-se da paródia e da sátira, realizando-se num misto de homenagem. Consubstancia-se frequentemente num exercício capaz de estimular a atividade imaginativa, numa prática lúdica e formadora.
Babylon - Pastiche é uma criação, baseada numa outra obra já existente, que serve de base para um resultado original em que nada se assemelha ao plágio. É uma copia grosseira de uma obra literária ou artística.
Infopédia - imitação ou decalque de uma obra literária ou artística, frequentemente com objetivos satíricos ou humorísticos.
Wikipédia - Pastiche é definido como obra literária ou artística em que se imita grosseiramente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc.
O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo, ou é uma recorrência a um gênero. Modernamente, o pastiche pode ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, tornando-se uma paródia em série ou colcha de retalhos de vários textos. Nem sempre é grosseiro, como demonstra o romance Em Liberdade, de Silviano Santiago, que é pastiche do estilo de Graciliano Ramos
Minidicionário de Dermival Ribeiro – Pintura em que se imita, geralmente mal, a maneira de outro pintor; Obra literária em que se procura imitar escritor célebre; Qualquer obra literária ou artística resultante de várias fontes; Mistura, mixórdia.
Minidicionário Soares Amora – Obra grosseiramente imitada de outra; espetáculo montado com fragmentos de diversas obras.
As descrições acima não deixam dúvidas sobre as “diversas” aplicações do termo que foi muito bem esclarecido pela Mestra em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, da UFSC, Fatima Regina Althoff, em um trabalho apresentado no primeiro Seminário Internacional História do Tempo Presente em Florianópolis, neste ano de 2011. O título de seu trabalho é “Renovação, reconstrução e pastiche – a ânsia de reproduzir a arquitetura do passado no presente”. Da página 7 em diante ficou claro para mim que o que fiz foi apenas uma caracterização alusiva, nem mais, nem menos. Daí a ser pastiche, teria que me esforçar mais.
De qualquer forma, pensando e analisando calmamente sobre a proposta que eu e meus colegas apresentamos, concordo que chamaria bastante atenção e até faria certo sucesso junto à população que apenas vê os prédios. Para quem vê arquitetura, haveria mais críticas que elogios. Mas a polêmica é válida para instigar reavaliação de conceitos.
A solução de criar um anexo ao lado de um prédio histórico e propor utilização para este pequeno complexo coube ao grupo esta tarefa. No entanto, várias regras não foram totalmente esclarecidas assim como a orientação foi pobre para o desenvolvimento desta empreitada. Mais uma vez, falha o programa de ensino.

4 comentários:

  1. Parei nesse blog por conta do paradigma do ''Pastiche'' rsrsrs. Meu professor de Estética e história das artes, postou um artigo chamado: ''pastiche na arquitetura'' também da Mestra em Urbanismo, HIstória e Arquitetura da Cidade, da UFSC, Fátima Regina Althoff, e eu não entendi certamente, o que significa, de fato, Pastiche. Daí, fui procurar num livro chamado: ''Alegoria do Patrimônio'' e, claro, também caí na mesma dúvida: Afinal, o que é pastiche? rsrsrs gostei do texto!!! parabens!!

    abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado, prezado artista. Fico feliz em compartilhar pensamentos e mais feliz quando são lidos. Aproveito para parabenizá-lo também, pois em visita a seu site, encantei-me com suas obras. Grande abraço.

      Excluir
  2. O mal do mundo
    O pastiche precisa ser combatido, é como uma mascara que tenta esconder o que há por trás. Isto é, o pastiche tenta exprimir aquilo que ele próprio não é. É um disfarce que engana muitos olhos desavisados,não há nada mais pastiche do que um projeto que tenta se valer de uma falsa antiguidade para agregar conteúdo. A razão da sua existência nega sua própria autenticidade. Não que seu projeto esteja pastiche, mas já que se preocupa com a problemática do pastiche, quis deixar meu contributo...

    ResponderExcluir
  3. Acho que o colega acima foi bastante assertivo na definição.

    O grande problema do pastiche na arquitetura é fingir deliberadamente ser o que não é. Uma coisa é fazer homenagem, paródia ou qualquer outro tipo de análise do estilo, outra coisa é fazer pastiche, no sentido de não se fazer qualquer tipo de reflexão sobre o estilo que se tenta imitar, mas simplesmente tentar "roubar" daquele estilo o seu valor agregado.

    ResponderExcluir